quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

INTRODUÇÃO CUTCITY2012


Cette société qui supprime la distance géographique recueille intérieurement la distance, en tant que séparation spectaculaire.
Guy Debord (1967) L’aménagement du territoire, p.167

A adopção dos princípios da indústria pelas entidades políticas gestoras da cidade, transportou para o urbanismo uma ideologia que procura implementar conceitos de desenvolvimento tecnológico, de especialização, de mobilidade e de economia de tempo. Estes conceitos acabaram por estruturar uma metodologia projectual que se formaliza, nos seus exemplos mais claros, em zonamentos mono-funcionais e em redes urbanas infraestruturais hierarquizadas (ductos e vias). A implementação desta ideia de cidade levou, por exemplo, à criação de zonas dormitório, zonas industriais, centros comerciais, redes de circulação acelerada, etc.
Estes espaços de vida acabaram por desenvolver no seu habitante um sistema cognitivo fixado sobretudo em conceitos de comunicabilidade, de velocidade e de manipulação mediada. Os processos, operações e procedimentos passam para a ribalta do pensamento e as finalidades passam a ser quase exclusivamente operativas. Esta operatividade inicia-se com objectivos funcionais, passando depois para a comunicação e para a transparência, fixando-se ultimamente no mero prazer da manipulação sem inércia.
Das vias de tráfego intenso às “auto-estradas” da informação, passamos do transporte de pessoas e bens para o transporte, mediado eletronicamente, dos significados, dos conceitos e da tele-presença. Simultaneamente estas redes operativas de compressão do espaço-tempo, esta fixação nos processos e procedimentos, fazem perder de vista as noções de vizinhança e proximidade envolvente, instalando-se o paradigma do labirinto e da pirâmide, de que as plataformas de video jogo Dome e de SimCity são um excelente exemplo.
Com a autonomização da “presença imediata” ou do “tempo real”, procuram-se eliminar não apenas os obstáculos físicos, mas as própria distâncias geográficas. As periferias deslocam-se da sua habitual geografia ligada á distância espacio-temporal (espaço real) e passam a ser aquelas que, podendo estar “ao lado de” se encontram sem “acessos” sem “comunicação” e logo sem possibilidade de presença e sem “realidade” social, identitária ou outra. Elas fazem parte da perda de extensão territorial correlativa do desaparecimento das distâncias pela velocidade.
Isto é, a inserção do sistema de deslocações (vias de fluxo denso e rápido) associado à única realidade objectiva dos nossos tempos, precisamente o tempo ou a presença imediata, dado que implicam uma manifestação física, criam novas distâncias e descontinidades espaciais, exactamente nos locais geográficos em que se implantam.
Os enclaves assim criados são descontinuados do restante espaço geográfico e social da cidade e assumem hoje uma realidade com que nos confrontamos. Os grandes centros comerciais aparecem implantados num território que só nos grandes sistemas manipulatórios do poder são neutros, gerando comunicações e distribuições à escala das regiões, o contexto urbano ou territorial é para estes enclaves absolutamente indiferente, sendo a sua operatividade económica a única realidade.
Mas a “revolução” não confina apenas na perturbação do corpo territorial, é que ao fazê-lo, excedem também o “corpo animal” do ser humano, que estando num lugar físico passa a a estar “milagrosamente” noutro não-lugar virtual, sem ter de passar por nenhum lugar. Suprimindo-se assim, os limites da presença física pela ubiquidade do “éter”. Estamos aqui e ali em simultâneo (à velocidade da luz) e entre o aqui e o ali algo foi exterminado e esquecido, o contexto!
Os problemas de identidade dos espaços passam pela compreensão de que não existe identidade sem passado e sem futuro, pois ambos revelam o contexto espacial do lugar, sendo este, tal como o presente, exatamente esse instante/lugar entre aquelas duas extensões espacio-temporais.
Mas, não se insere esta tendência numa tendência mais geral, onde a mesma ideologia que retira o tempo da deslocação, tem vindo a retirar também a realidade ao espaço?
O que pode a Arquitectura fazer neste contexto? Que arquitectura se pode esperar numa cidade fragmentada onde o espaço e as implantações de continuidade contextual parecem estar em desaparecimento? Não se reflecte na Arquitectura este extermínio do contexto, não estará a Arquitectura a tornar-se design de objectos descontextualizados (ou globalizados)?

2 comentários:

  1. Quais são os contactos?
    Qual é o preço?
    ...

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  2. Olá

    Infelizmente este ano o evento que programámos apenas contempla os alunos do Departamento de Arquitectura da Lusófona. Dado que têm surgido muitos pedidos de participação exteriores, provavelmente para o ano que vem iremos organizar um evento aberto a inscrições de alunos e arquitectos (finalistas ou em estágio) externos. Tal deverá ser conseguido com a participação da OA e com créditos para estagiários.
    Muito obrigado pelo seu interesse

    João Menezes de Sequeira

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